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Vítima de transplante de órgão com HIV: Eles não estavam lidando com a nossa vida, foi só dinheiro que eles viram

Publicada em 14/10/24 às 10:45h - 5 visualizações

por TV Africa Biso Brasil


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 (Foto: TV Africa Biso Brasil )
Seis pessoas foram infectadas com o vírus HIV depois de receberem um transplante de órgão no Rio de Janeiro. Um erro inédito na história do programa de transplantes no Brasil. E um erro irreparável na vida destes pacientes.

O Fantástico deste domingo (13) conversou com exclusividade com uma das vítimas (veja a íntegra no vídeo acima). O incidente foi revelado na sexta-feira (11) e é investigado pela Polícia Federal.

A mulher, que não quis se identificar, recebeu um rim:
"É como se o chão se abrisse e você... Sabe? (...) Porque é a minha vida e daqui pra frente a minha vida mudou. A minha família tá revoltada, porque a gente entra lá com a maior confiança de que vai dar tudo certo", afirmou ao Fantástico.

A falha que permitiu a infecção aconteceu dentro de uma das unidades de laboratório contratado pela Secretaria Estadual de Saúde, a Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme).

"Vai mudar a minha vida completamente, porque antes era só os meus remédios pra não ter rejeição dos meus rins (...) Eu não fiz nada pra adquirir isso. O erro foi de pessoas irresponsáveis. 

Porque eu acho que quem lida com a vida de uma outra tem que ter responsabilidade", disse a vítima.

A clínica emitiu laudos negativos para HIV de dois doadores que tinham o vírus. Ao todo, nove órgãos doadores pelos dois — um homem e uma mulher — foram transplantados e infectaram os seis pacientes.

"Eles não estão lidando com a nossa vida. Foi só dinheiro que eles viram, né? E foi muito, não foi pouco. Foi muito dinheiro. Não tem nenhuma justificativa. Eu quero punição", disse a vítima.

As autoridades só descobriram a infecção por HIV quando uma pessoa que havia recebido um órgão em janeiro procurou atendimento em um hospital no dia 10 de setembro. Durante os exames, foi constatada a presença do vírus. Antes do transplante, um teste havia confirmado que essa pessoa não tinha HIV.

O hospital notificou a Secretaria Estadual de Saúde, que iniciou uma investigação. Como uma amostra de sangue do doador é mantida no Hemocentro do Rio, o teste foi refeito e deu positivo para HIV. A Secretaria localizou as pessoas que também haviam recebido órgãos desse doador e confirmou que outras duas haviam sido infectadas.

Os outros três pacientes que receberam órgãos de outro doador só foram identificados no início deste mês, quando um deles procurou atendimento e descobriu que também estava com HIV.

"A gente fica preocupado, né? Que a gente tá bom e de repente pega um negocio desse aí e aí complica mais. Eu vou ver como é que vai ser, o médico marcou pra terça-feira aí, entendeu?", disse.

A Anvisa e a Vigilância Sanitária do Estado realizaram uma vistoria e decidiram fechar a unidade do laboratório PCS Saleme, responsável pelos testes dos doadores, localizada dentro de um instituto de saúde na Zona Sul do Rio de Janeiro.

O Fantástico teve acesso exclusivo às informações e fotos da auditoria, que revelou 39 irregularidades. Entre as mais graves, destacam-se: o laboratório não possuía licença para funcionar no local, amostras de sangue estavam sem identificação, não foram apresentados registros de treinamento dos funcionários, o material biológico era armazenado em uma geladeira comum, e os aparelhos de ar-condicionado estavam mal conectados, sem condições adequadas de higiene.

A Secretaria Estadual de Saúde informou que o PCS Saleme não presta mais nenhum tipo de serviço ao estado desde o início do mês, quando foram confirmados os casos. O laboratório tinha um contrato com o governo do Rio desde o final do ano passado, no valor de R$11 milhões. Agora os testes dos doadores passam a ser feitos exclusivamente pelo Instituto Estadual de Hematologia.

O diretor-geral da Central Estadual de Transplantes informou, em um ofício interno nesta semana, que a atual gestão não foi consultada durante o processo licitatório e também não participou da elaboração do contrato. Ele destacou ainda que questionou a habilitação do laboratório, pois os documentos necessários para a avaliação não foram apresentados.



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