O esporte paralímpico se transformou em ilha de excelência e rara opção de inclusão social para a população deficiente no Brasil.
De acordo com os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2022, 8,9% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. São 19 milhões de brasileiros acima de dois anos de idade.
O trabalho no topo da pirâmide do esporte paralímpico no Brasil é espetacular. A estrutura oferecida aos atletas em mais de dez centros de excelência espalhados pelo país é das melhores do mundo. Principalmente no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, localizado em São Paulo no Parque das Fontes do Ipiranga.
Inaugurado em 2016, o Centro de Treinamento demandou investimentos de R$ 264,272 milhões de reais, oriundos do Governo Federal e do Governo do Estado de São Paulo. O local pode receber 300 atletas com total conforto e oferecendo as melhores condições de treinamento.
Assim como acontece no esporte para pessoas sem deficiência, o esporte paralímpico brasileiro carece de planejamento que contemple a estrutura de pirâmide. O acesso ao esporte de base, em escolas ou centros públicos, é que fornece o volume para a captação de talentos. No caso do esporte paralímpico, vai além: oportunidades de inclusão social.
Um dado importante no que se refere ao investimento da base está no número de atletas brasileiros que foram a Paris como estreantes em Paralimpíadas: 88 na delegação de 254. É um passo rumo a um ciclo de formação de atletas.
O Brasil está longe de ser um exemplo em inclusão para portadores de deficiência. Uma caminhada pelas calçadas do país escancara uma das muitas dificuldades do cotidiano.
Outros aspectos revelados pela Pnad de 2022 chamam a atenção para a situação dos deficientes no Brasil. A taxa de analfabetismo entre os deficientes é de 19,5%, enquanto entre a população sem deficiência é de 4,1%. A população ocupada entre os deficientes é de 26,6%, ante 60% da população sem deficiência. A renda média dos deficientes é 30% menor que a renda daqueles sem deficiência.
A destinação de 0.87% do volume total de arrecadação das Loterias do Brasil para o Comitê Paralímpico Brasileiro (Lei Agnelo/Piva, e 2021) possibilitou que R$ 223 milhões de reais fossem destinados ao esporte paralímpico de alto rendimento, somente em 2023.
O desafio é fazer com que o sucesso paralímpico sensibilize a sociedade brasileira para a situação dos deficientes, atletas e cidadãos com interesses e talentos em outras áreas. No caso dos esportes, muitas modalidades sobrevivem graças à atuação de ONGs e abnegados.
A própria Paralimpíada de Paris trouxe um exemplo de como o discurso ainda está distante da realidade. Sob a bandeira da acessibilidade, a competição ocorreu numa cidade que tem uma das maiores malhas de metrô do mundo. No entanto, menos de 10% das 308 estações do metrô parisiense são acessíveis.